“O nosso conhecido mêdo de enfrentar a verdade (o mêdo de um povo que para tal foi educado, desde séculos antes de ter sido salazariado), o falso optismo do ‘talvez não seja tanto assim’, que é a reacção dos que ainda querem salvar uma mísera comodidadezinha, pouco acima do nível da fome e paga à fôrça de abdicações morais e espirituais — eis o terreno no qual a ditadura não teve dificuldade em firmar os alicerces do seu monstruoso culto de coisa-nenhuma, o auto-endeusamento da violência que só ama a si mesma. Porque um povo que fecha os olhos de dentro ao que os olhos virados para fora lhe estão mostrando a cada instante, é um povo pronto a abdicar da sua vontade nos altares da tirania.”
Esta era a visão de Adolfo Casais Monteiro sobre o nosso país no início nos anos 60. Estas palavras encontram–se presentes no prefácio do livro “Quando os Lobos Julgam a Justiça Uiva“, uma obra que reúne os textos integrais da Acusação e Defesa no processo que o Estado Novo moveu contra o escritor Aquilino Ribeiro devido a sua obra “Quando os Lobos Uivam” de 1959. A preparação da defesa sido feita pelo próprio Aquilino, na altura com 73 anos, o advogado Dr. Heliodoro Caldeira e Manuel Mendes, amigo de Aquilino.
O processo viria a ser arquivado possivelmente por o regime temer as repercussões nacionais e internacionais da perseguição movida contra o escritor.