A última peça da terceira, e derradeira, temporada do Teatro Moderno de Lisboa foi, para grande surpresa de muitos, O Render dos Heróis de José Cardoso Pires, um texto vigoroso e bastante forte sobre a revolta da Maria da Fonte e as lutas liberais, o caciquismo local, o centralismo do governo monárquico e a crescente interferência do poder estrangeiro em Portugal. A peça de José Cardoso Pires foi um dos maiores êxitos do TML em termos de crítica e de público, contando com uma excelente encenação de Fernando Gusmão. “O nosso segundo espectáculo tinha que recair em “O Render dos Heróis” porque fora a única peça de autores portugueses aprovada pela Censura. E, se esta aprovação poderá levar espíritos apressados a várias cogitações, quanto a nós, ela foi devida a dois factos muito concretos: a incapacidade de a referida Censura saber ler textos de teatro, liam-nos como se fossem artigos de jornal, e o que é mais difícil, saber visioná-los num palco como era o caso da peça de Cardoso Pires, tão rica em potencialidades e várias conotações; o outro facto é ainda mais curioso e aconteceu pelos mesmos motivos e foi, quando o texto apareceu editado, o órgão oficial do Governo, o Diário da Manha, ter publicado uma nota crítica (!) muito positiva e elogios sobre essa peça! Isto deve ter incutido confiança e descansado os censores. É claro que eles tinham a faca e o queijo na mão e podiam, no ensaio geral, proibir o espectáculo ou fazer cortes no texto, mas depois da estreia de um espectáculo do qual o público “toma conta e faz seu”, como aconteceu com o da peça de Cardoso Pires, o que restava à Censura foi o que acabou por fazer: ao fim de alguns dias de representação proibiu que o espectáculo saísse de Lisboa, indo mesmo ao ridículo de nos proibir qualquer publicidade ao mesmo. O que nos valeu foi a publicidade feita pelo próprio público que, num “boca em boca” espontâneo, começava a acorrer ao espectáculo e o esgotava. “… Quanto ao meu trabalho de encenação, claro, não desejo alongar-me muito. Mas chamou-me logo a atenção o facto de Cardoso Pires ter posto ao seu texto o subtítulo de narrativa dramática em três partes e uma apoteose grotesca”, depois, a divisão em quadros com diferentes locais de acção e de duração, o que, à partida, punha logo problemas práticos ao nível das soluções de continuidade, por último, a palavra “grotesco” junta com “apoteose”.
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