Escritor português, Luiz José Machado Gomes Guerreiro Pacheco nasceu a 7 de maio de 1925, em Lisboa, e faleceu a 5 de janeiro de 2008, no Montijo. Oriundo de uma família de raízes alentejanas ligada às artes, frequentou o Liceu Camões, em Lisboa, e matriculou-se no curso de Filologia Românica, que não chegou a concluir.
Colaborou em várias publicações periódicas como Bloco, Seara Nova, Globo, Afinidades, Diário Popular, Diário Ilustrado. Foi inspetor dos espetáculos e acumulou a escrita com a tradução e com a atividade editorial, publicando em Contraponto, editora fundada por si em 1950, textos coletivos de autores surrealistas e neorrealistas como Mário Cesariny, Natália Correia, Herberto Helder e Vergílio Ferreira, assim como a primeira tradução portuguesa de Sade.
O seu primeiro livro, Carta-Sincera a José Gomes Ferreira, data de 1959 e inicia uma escrita de crítica inteligente, agressiva e irreverente, face aos costumes e nomes consagrados.
Assumiu-se como um agitador intelectual, ironizando e satirizando a vida literária e cultural do país. De salientar na sua produção os textos de circunstância e a encenação epistolar: Pacheco versus Cesariny e as coletâneas Crítica de Circunstância, Literatura Comestível e Textos de Guerrilha 1 e 2.
Figura representada por Benjamim Marques (cf. MARTINHO, Fernando J. B. – Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50, Lisboa, 1996, p. 79) entre os autores e artistas abjecionistas (ao lado de Manuel de Lima, Mário de Cesariny, Raul Leal, José Manuel Simões, Hélder Macedo, João Rodrigues, Gonçalo Duarte, Escada, Cargaleiro, António José Forte, Manuel de Assunção, Virgílio Martinho e Saldanha Gama) do grupo reunido entre 1956 e 1959 no Café Gelo, grupo associado a uma segunda geração surrealista, definida pela perda do que o surrealismo tinha de aventura exaltante para revelar uma faceta auto-irónica, trágica e iconoclasta, que rejeita não apenas a ordem social e moral “do establishement com que, num plano mais imediato, se defronta, mas todo e qualquer establishement, e que parece descrer de qualquer saída para o mal-estar insanável que é o seu” (id. ibi., p. 80).
Autor inclassificável, aproxima-se do abjeccionismo e de uma manifestação tardia do libertinismo por um inconformismo radical, por uma recusa essencial face a tudo o que possa vir a converter-se em obstáculo (conceitos, bom senso, dogmas) diante da afirmação plena da liberdade existencial e artística, firmada num ato de escrita que equivale a um ato de revolta contínuo (cínico, agressivo, satírico) contra uma sociedade que receia enfrentar as zonas mais obscuras da sua condição.
A sua obra desenvolveu-se em duas vertentes frequentemente confluentes: por um lado, a escrita panfletária, polémica e crítica (cf. Textos de Circunstância, Textos de Guerrilha I e II), e, por outro, uma ficção que tende com frequência para a autobiografia romanceada, na linha de um autor como Céline, onde confessa com desinibição as contingências de um eu ostensivamente pícaro, anti-herói sem dinheiro, incapaz de sustentar a família, boémio, sem teto certo, alcoólico, mendigo, em colisão frontal com os valores burgueses – concedendo apenas nas imagens da amada e do amor sensível materializado nos filhos momentos de rara exaltação da vitalidade -, e onde a desmistificação do eu encontra equivalente na desconstrução e experimentação linguística do próprio texto.