Duarte Pacheco Pereira
Biografia
[Santarém 1460 -1533]
DUARTE PACHECO PEREIRA, cognominado por Camões Achilles Lusitano, natural de Santarem, famosissimo capitão na India, e depois Governador do castello de S. Jorge da Mina, d’onde veiu preso para Lisboa, em consequência das accusações que seus inimigos levaram dolosamente contra elle aos ouvidos d’elrei D. Manuel. Posto que ao cabo de alguns annos de prisão conseguisse justificar-se, e provar a sua innocencia, isso não ob- stou a que morresse pobre e miseravelmente, deixando aos vindouros mais um exemplo das inconstancias da fortuna, e uma nodoa indelevel na fama do monarcha, que recompensou com tamanha ingratidão os seus assigna- lados serviços. O cantor dos Lusiadas lhe assegurou porém a immortalidade, vingando-o das injurias da sorte nas memoraveis oitavas 13 até 25 do canto X, que serão sempre lidas e decoradas, em quanto durar no mundo a lingua portugueza. Este heróe, não menos destro nas artes da milicia, que versado nos estudos das sciencias nauticas e na cosmographia, escreveu ao que parece em 1505, e deixou manuscripta a obra seguinte, que por nossa imperdoavel incuria se conserva até agora inedita, e talvez no risco de perder-se de todo, se lhe não acudirmos a tempo:
Bibliografia
Esmeraldo de Situ Orbis, feito e composto por Duarte Pacheco, cavalleiro da Casa del Rei D. João o II de Portugal que Deus tem, dirigido ao muito alto e poderoso principe e serenissimo senhor, o senhor Rey D. Manuel nosso senhor, o primeiro deste nome que reynou em Portugal. Constava segundo a declaração de Barbosa, de quatro livros; o primeiro com 33 capitulos, o segundo com 71 (alias 11); o terceiro com 9, e o quarto com 16, tendo além disso 16 mappas illuminados e algumas estampas pequenas.
O nosso distincto philologo o sr. Rivara, no interessante e bem pensado artigo que inseriu no Panorama, vol. v (1841) pag. 10 a 12, dá uma idéa assás circumstanciada d’esta obra, e do seu contexto, servindo-se das duas copias, não de todo completas, que existem na Bibl. publica eborense. Ahi lastima com razão o nosso desleixo, que tem deixado jazer por tantos annos em esquecimento este precioso monumento de nossas glorias passadas, fazendo votos para que esta inqualificavel falta seja em fim resgatada com a publicação do livro. Oxalá que os seus desejos, partilhados sem duvida por todos os que como elle têem a peito as cousas da patria, se vejam sa tisfeitos; e que a nossa Academia, hoje felizmente habilitada com meios sufficientes para realisar taes emprezas, se não descuide de nos dar em seguida ás Lendas da India de Gaspar Corrêa, o Esmeraldo de Pacheco, remindo, ainda que tarde, e pelo modo possivel a divida, em que Portugal se acha para com aquelle seu illustre filho.
Por aqui…
Diccionario Bibliographico Portuguez, Tomo 2, Página 212