António de Oliveira Marreca
Biografia
[Santarém – 26 de Março de 1805, Lisboa – 19 de Março de 1889]
Professor de economia política (Lopes de Mendonça afirma ser ele um dos mais perspicazes economistas do seu tempo), foi também autor de romances históricos.
Partidário das ideias preconizadas pela Revolução Francesa, esteve exilado em Londres durante o domínio absolutista, só voltando a Portugal depois de restabelecido o sistema constitucional. Desempenhou importantes cargos públicos, entre os quais o de administrador da Imprensa Nacional, guarda-mor da Torre do Tombo e lente do Instituto Industrial. Temperamento revolucionário, fez parte do «triunvirato republicano» (com José Estêvão e Rodrigues Sampaio), que se constituiu depois da Revolução Francesa de 1848 e que se dissolveria com a Regeneração.
As ideias republicanas de Marreca (dos mais conscientes e coerentes doutrinadores do grupo apelidado irónica e maldosamente de «Clube dos Lunáticos», quando se reunia por volta de 1864) levá-lo-iam a aceitar a presidência do Partido Republicano e a ter importante papel na redacção do programa do mesmo.
Colaborador de numerosos jornais com artigos de natureza política e económica (A Ilustração, A Revolução de Setembro, Revista Económica), foi no Panorama que apareceram as suas narrativas históricas, tendo sido saudado por A. Herculano como um dos seus mais ilustres continuadores. Interessado pelas questões económicas e sociais, foi por este ângulo que quis abordar a história dos naufrágios das naus portuguesas na carreira das Índias. Inspirando-se num episódio da História Trágico-Marítima, publicou a novela Manuel de Sousa Sepúlveda.
Posteriormente saiu também no Panorama uma novela de tema medieval, O Conde Soberano de Castela, em que o autor aborda as lutas travadas na Península entre os vários reinos cristãos, Leão, Aragão e Castela. Herculano, não lhe negando elogios, afirma que a maior qualidade de Oliveira Marreca foi a de «popularizar o estudo daquela vida pública e privada dos séculos semibárbaros». A vivacidade narrativa, sobretudo quando descreve as batalhas que nos são dadas de um modo quase «cinematográfico», e a correcção e austeridade do estilo (ainda que usando de convencionalismos no tratamento dos personagens e dos sentimentos e de «chavões de escola» habituais nos cultores do género) deveriam merecer a Oliveira Marreca um lugar mais destacado entre os representantes do romance histórico português.
Como economista deve salientar-se a sua probidade intelectual e espírito de rigor: «não se determina senão pelo estudo dos factos e pela análise dos resultados experimentais», e como dele fala A. P. Lopes de Mendonça, numa época em que a análise económica era dominada pelas ideologias e conveniências políticas.
Bibliografia
Importancia da Ecnomomia Política. Jornal da Sociedade dos Amigos das Letras, nº 1. (1836)
Noções elementares de Economia Política, para servir de compendio ás pessoas que frequentam o curso d’esta sciencia, fundado pela Associação Mercantil de Lisboa, e dirigido pelo auctor. Typ. do Largo do Contador Mor (1838)
Considerações sobre o Curso de Economia Política, publicado em Paris em 1842 pelo sr. Miguel Chevalier. Revista Panorama, Vol. VII, Números 70, 71, 72, 74, 77, 78, 80, 81, 83, 85, 86, 90, 93 (1843).
Manuel de Sousa Sepúlveda – Trecho Histórico Romântico. Panorama, vol. VII. (1843)
O Conde Soberano de Castela, Fernão Gonçalves. Panorama (1844 e 1853)
Parecer e Memória sobre um Projecto de Estatística. Typ. Academia Real das Sciencias (1854)
Diccionario Bibliographico Portuguez, Tomo 1, Página 215
Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II.