Avatar

Wenceslau de Moraes

José de Sousa WENCESLAU DE MORAES, nasceu em Lisboa em 1854, e faleceu em Tokushima (Japão) em 1929. A uma distância de séculos de Fernão Mendes Pinto, seu antecessor, foi o grande orientalista da literatura portuguesa moderna, convertido a fascinante estagnação asiática, através de um Japão ideal que ele amou, sensual e espiritualmente renegando o Ocidente, a seus olhos materialista e exteriorizado.

Aos dezassete anos, Wenceslau de Moraes assentou praça em Caçadores 5. Não tardou, porém, a arrepiar caminho e em 1875 concluía o curso da Escola Naval. Capitão de fragata em 1893, fez duas comissões em Moçambique e uma em Timor. Foi imediato da capitania do porto de Macau, em cujo liceu também foi professor, travando grande amizade com Camilo Pessanha. Aí casou com uma chinesa de quem teve dois filhos e viveu três anos no «esquecimento que aniquila o tempo». Nunca, entretanto, penetrou verdadeiramente na sociedade e na alma chinesas, no âmago desse «país da desolação e da angústia». Em contrapartida, o Japão transporta-o ao primeiro contacto. Das margens da sua amorável paisagem verde e estilizada, irá pela mão da «mulher» até aos recessos íntimos da alma nipónica. Esse um dos reais méritos da sua obra, essencialmente válida nos aspectos plásticos e confidencial. Em 1899 foi nomeado cônsul em Kobe, onde se ligou a uma «geisha», O-Yoné (Senhora Bago de Arroz) renunciando àquela prebenda em 1913, para ir, já viúvo, ensimesmar-se saudosamente em Tokushima, na Ilha de Shikoku, hostilizado, ao tentar integralmente japonizar-se (mesmo na adopção estética das práticas budistas) pelo próprio povo da sua eleição. Jogou assim a vida numa experiência total. Traído, escarnecido, abandonado, conservou até ao fim da sua vida, como quem alimenta de sonho o halo de um deslumbramento, a sua paixão pelo Império do Sol Nascente. É superficial, ainda que cheia de autenticidade. a condenação da Europa que a sua obra reflecte, visão pessimista do homem branco anelante de aniquilação, repúdio de tecnicismo e da arte nova ocidental, males a que ele liga e pelos quais até certo ponto responsabiliza os americanos, os grandes monstros da humanidade, em favor de uma Asia pouco profunda, quando interpretada por ele intelectualmente.

A mais curiosa criação de Wenceslau de Moraes, excepção feita ao Dai-Nippon, que é uma das suas melhores obras, é O-Yoné e Ko-Haru, colectânea de novelas, de confissões e reminiscências dolorosas – livro de saudades que, pela própria saudade, se denuncia ainda lusitano e ocidental, mas o mais intuitivamente compreensivo de todos aqueles em que o autor derramou o seu fascínio pelo Japão.

Visiualista possuidor de um estilo solto e harmónico, perspectivado sempre sem dureza, ameno e sensorial, descreveu com rara frescura a vida do povo, as suas crenças e, sobretudo, as «musumés», as encantadoras mulheres japonesas, «de uma coloração indecisa de luar, animadas de mobilidades contínuas, que falam à alma primeiro que aos sentidos». Pintor da vida e do movimento, esse seu poder descritivo, e bem assim a compreensão instintiva da psicologia japonesa, revela-se como um acto de verdadeiro amor e o preço da sua própria vida.

Entre as obras mais conhecidas e importantes de Wenceslau de Moraes contam-se: Traços do Extremo Oriente (1895), Dai- ippon (0 Grande Japão) (1897), Cartas do Japão (escritas de 1902 a 1912), Paisagens da China e do Japão (1906), O Bon-Odori (dança da festa dos mortos) em Tokushima(1911). Fernão Mendes Pinto e o Japão (1920), O-Yoné?… Será Ko-Haru?… (1918) e Relance da História do Japão (1924).

0
    0
    Carrinho
    Carrinho VazioRegressar à Loja
    WhatsApp chat